Chuva de meteoros menor – August Caelids (ACD)

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Efemérides

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Imagem mostra o agrupamento de orbitas que compõem a chuva de meteoros August Caelids

quando em sua descoberta, em março de 2017.(Ao centro o Sol, em amarelo. A Terra, em azul)

     August Caelids é uma chuva de meteoros menor. Sob o número 798 e sigla ACD na lista oficial de Chuvas de Meteoros do MDC (Meteor Data Center), órgão ligado a à IAU (União Astronômica Internacional) e que estuda, regulamenta e normatiza as chuvas de meteoros.

Esta é uma chuva de meteoros menor justamente por possuir uma baixa taxa de ocorrência das chamadas “estrelas cadentes”. Estimativas iniciais apontam uma taxa de 4 meteoros por hora. O pico da chuva foi calculado para a noite de 4/5 de agosto.

Seus meteoros possuem média velocidade no céu, algo como 44,5 km/s e parecem surgir da constelação do Cinzel, daí o nome da chuva. O genitivo da constelação do Cinzel é Caelids.

Meteoro ACD registrado pela estação ACD; Antônio Duarte – Rio Claro -SP

Por tratar-se de uma constelação austral, os observadores do hemisfério sul são privilegiados para a observação de tais meteoros. Sempre lembrando que é necessário fugir da poluição luminosa das grandes cidades para aumentar as chances de visualização. Este ano, a Lua crescente não vai interferir muito na observação. Para não não sabe localizar a constelação do cinzel, uma ótima dica prática é buscar ver através do software Stellarium. Em sua versão mais atual, o famoso simulador de céu consta com uma ferramenta que habilita a visualização das chuvas de meteoros ativas ao logo das datas. E é um extremo privilégio possuir a chuva August Caelids na base mundial do Stellarium. Assim, qualquer usuário do programa poderá saber, com precisão, onde estará o radiante ACD.

Imagem para as 4h00min (Hora Local) de 05/08/2017 . A constelação do Cinzel estará no rumo sudeste.

A história

A August Caelids foi a segunda chuva de meteoros descoberta na base de dados da BRAMON. A primeira foi a Epsilon Gruids. Enquanto conferiu os inúmeros cálculos de validação de similaridade dos meteoros que compunham a chuva EGR, Lauriston Trindade percebeu que um grupamento no cinzel tinha um bom potencial orbital. Isto é, um bom número de meteoros pareciam surgir de uma área relativamente pequena, bem junto à constelação do Cinzel. De início ele separou quase duas dezenas de meteoros registrados entre os anos de 2014 e 2016. E iniciou a análise combinatória dos mesmos. Naquele momento a metodologia de cálculo empregada era mais célere, algumas planilhas eletrônicas combinadas já faziam as vezes dos cálculos manuais iniciais. Muitos meteoros da lista inicial mostraram não possuir a similaridade orbital necessária. Este foram sendo descartados. Quando o grupo ficou reduzido a menos de dez, as coisas “foram se encaixando”. Era possível ver que o grupo possuía alta correlação matemática. Isto é, pouco desvio nos valores dos parâmetros orbitais testados. O pesquisador Carlos Di Pietro conferiu os cálculos e comprovou que tínhamos mais uma descoberta em mãos.

De posse dos valores orbitais médios, expandiu-se a busca por meteoros que se encaixassem no grupo. A BRAMON possui parceria com grandes redes pelo mundo. A questão que nos limitava era que tais redes, encontram-se no hemisfério norte e, uma vez que o radiante do Cinzel possuía declinação de -38º e a taxa horário muito baixa, dificilmente elas teriam algum registro. Felizmente dois meteoros da Rede EDMONd puderam ser agregados aos oito anteriormente encontrados. Não que estes meteoros fossem fundamentais para validar a descoberta, não. Mas eram importantes porque estreitavam nossa parceria e dava força ao trabalho colaborativo. E assim foi. Em 9 de março foi mandado um informe à IAU. Ali estavam descritos os dois radiantes: EGR e ACD. No dia 20 de março, o MDC atualizou sua lista e incluiu os dois primeiros radiantes BRAMON. Hoje temos 25 radiantes na lista internacional.

Texto e edição: Lauriston Trindade*

*Lauriston Trindade é integrante da BRAMON desde julho de 2015. Co-descobridor de chuvas de meteoros. Membro da IMO (Organização Internacional para Meteoros). Lauriston Trindade 

 

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