Personagens da Ciência de Meteoros – Parte IV

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Um novo despertar!

A história da Ciência mostra que antigos paradigmas somente podem ser derrubados se foram mostrados como obsoletos por não conseguir descrever tão bem algum fenômeno. Ao que nos interessada, que é o fenômeno meteorítico, seu modelo de explicação foi criado por Aristóteles e mantido por mais de 18 séculos. Curiosamente os “meteoros de Aristóteles” foram a ultima parte de seu modelo universal que veio a ser abandonada. A maior parte do Modelo aristotélico havia caído em desuso ainda no século XVII.

A doutrina de Aristóteles começou a ser questionada a partir dos trabalhos de Nicolau Copérnico (1473-1543), Tycho Brahe (1546-1601) e Galileu Galilei (1564-1642). O grande primeiro golpe foi mostrar que a Terra não era o centro do Universo e que o Universo, como descrevia Aristóteles, não era tão perfeito assim.

 

Copérnico

Brahe

Galileu

Copérnico nos mostrou que seria muito mais simples determinar a posição dos planetas no céu, se considerássemos que os mesmos possuíam orbitas circulares e centradas no Sol e não na Terra. Brahe nos mostrou, por simples paralaxe, que o Grande Cometa de 1577 estava distante além da órbita da Lua. Justamente, o intrigante era que tal cometa não deveria estar naquela região do céu, sendo o mesmo um mero fenômeno atmosférico. Quando Galileu descobriu as luas de Júpiter e as fases de Vênus, terminou de derrubar o Universo geocêntrico de Aristóteles.

Mesmo com a queda do modelo aristotélico, os meteoros continuaram inatingíveis, pois eram tratados com pouco interesse. Kepler (1571-1630) acreditava que os meteoros eram realmente fenômenos atmosféricos. Isso os excluía dos estudos astronômicos. Isaac Newton (1642-1727) também tratava os meteoros como fenômenos terrestres. Em 1704, Newton escreveu em seu Optics: 

                    “sulferous steams, at all times when the Earth is fry, ascending in the air, ferment there with

                      nitrous acid, and sometimes taking fire cause lightning and thunder and fiery meteors”

Newton mantinha ainda a explicação aristotélica, mesmo dando uma roupagem científica do século XVI.

Newton

Em 1676, John Wallis escreveu para a Royal Society britânica, relatando espanto ao saber que um mesmo meteoro foi visto em várias cidades da Inglaterra. Wallis sugeriu que um pequeno cometa tivesse roçado a superfície da atmosfera da Terra. Ele perguntava como a queima de um vapor poderia ser visto em tantos lugares da Ingaterra. Mantendo trajetória estimada linear?

Ralph Thoresby escreveu em 1710 a Royal Society, relatando um grande fireball em 18 de maio daquele ano. Descreveu como “uma grande exalação sulfurosa”. Mas, ao saber que muitas testemunhas estavam em diversas cidades, começou a pensar melhor sobre o fenômeno. Ficou ansioso em saber se outros reportes foram mandados a Royal Society. A carta dele nunca foi respondida. Mas Edmond Halley se interessou pela questão de como os grandes fireballs seriam formados.

Halley e os meteoros!

Halley

A primeira análise mais profunda que Halley fez sobre os meteoros, ficou descrita em três artigos que ele publicou em 1714. Ali foi o início do processo de ruptura com o modelo aristotélico. 

Halley fez as verificações da argumentação da origem do fenômeno dos meteoros tratando-os à luz do conceito de vapores inflamáveis. Ele começou a perceber que as observações não encaixavam naquele paradigma. Então as observações ou o modelo estavam errados?

Halley tomou como referência os brilhantes fireballs, justamente por conta de os mesmos poderem ser vistos de grandes distâncias. Foi notado que os fireballs deveriam estar a 65-80km altitude. Esta era uma importante informação pois, em 1680, Halley empreendeu experiências que apontavam que a atmosfera da Terra não era muito mais alta que 70km. Assim, como os meteoros poderiam ocorrer até mesmo acima do topo da atmosfera?

Infelizmente Halley reconhecia que suas observações e ideias seriam impopulares. Ele não tinha um modelo estabelecido para explicar os meteoros. Talvez se tivesse algo sólido teria sido possível aniquilar a versão de Aristóteles àquela época.  Mas não foi possível. Para ele seria difícil ir contra as palavras de Newton, quando o mesmo afirmava que no espaço exterior não existiria matéria sólida a não ser a constituinte de planetas, estrelas e cometas. Além do que, defender uma origem extraterrestre para os meteoros, era trazer à tona as ideias epicuristas. Algo que o cristianismo se esforçava para soterrar já por dezessete séculos.

Os meteoros aristotélicos sobreviveram a este primeiro teste contra uma argumentação de observações científicas. Não por conta da força de seu paradigma, mas por conta do receio de Halley em expor algo que envolvia mais do que uma mera percepção de um fenômeno, mas chega às raias da Filosofia.

Quase um século se passou para que uma nova teoria pudesse ser considerada suficientemente sólida. 

Personagens da Ciência de Meteoros – Parte III

Imagens sob licença CC 3.0. Pesquisa, tradução e edição: Lauriston Trindade*

*Lauriston Trindade é graduando em Física pela Universidade Estadual do Ceará. Integrante da BRAMON desde 2015. Co-descobridor de chuvas de meteoros. Membro da International Meteor Organization.

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